sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Criança com responsabilidades de adulto


Isso ocorreu no ano de 1987 em João pessoa

No relances de hoje, me veio à memória, a história da vida real de um garoto de 10 anos que apesar da pouca idade já assumia responsabilidades de gente grande. Ele morava com a mãe e mais um irmãozinho, em uma casa que estava prestes a desmoronar na comunidade Beira da Linha, bairro Alto do Mateus.

Estava eu fazendo uma matéria jornalística para o Jornal Correio da Paraíba, na Secretaria de Estado que trata do social e humano, não lembro quem era o secretário na época. E enquanto aguardava minha vez, tive tristeza de conhecer essa história que agora passo a vos contar.

A mãe do menino, que também não lembro o nome, além de ser muito pobre, tinha feito uma cirurgia ( após acidente ) e havia colocado platina nos braços e pernas. A mulher me mostrou o corpo todo parafusado. Ela realmente não tinha condições de trabalhar e havia sido abandonada pelo marido ( é comum o ser humano descartar outro quando este não o serve mais).

A força e determinação do garoto, apesar da pouca idade e da miséria que viviam, era o alento da mãe. Os três ( porque ela teve outro filho ) dividiam um barraco que foi parcialmente destruído durante uma das chuvas fortes. Há anos sem aposentadoria, a situação dos três era bastante difícil. Para poder se alimentar, ou os vizinhos os ajudavam ou a mãe faria exatamente o que estava fazendo naquela tarde que a conheci: pedindo ajuda ao governo.

Já conhecido dos donos de restaurante, ele recebia vez por um pouco de comida na hora do almoço. E Quando ele não sentia fome, levava para ela”, revela. O menino ainda tinha a obrigação de cuidar do irmão mis novo. Era ele que dava banho na mãe quando ela acamava ( ela tinha umas crises e paralisava geral ), quem lavava roupas etc.

Nessa história toda, o que mais me chocou ( passei dias pensando nisso ) foi o relato da mãe de que teve noites que ela não tinha nada pra comer nem dar aos seus filhos e os dois choravam de fome. Ela se via tão atribulada de uma forma, sem ter o que dar, sem saber o que fazer, que no desespero, batia neles até eles não agüentarem mais e cair no sono. Ela me contou isso em lágrimas. Lembrei da música de Djavan...” sabe lá o que é não ter e ter que ter pra dar ? sabe lá, sabe lá”! Não a julguei por isso. Quem sabe de nós, somos nós mesmos. Quem pode dizer qual o limite do limite ?

Nunca mais a vi. Tomara Deus que essa história não tenha terminado assim.

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